terça-feira, 10 de junho de 2014

João Garcia: Um mestre do jornalismo gaúcho.

Atualmente, João está no Grupo Bandeirantes.
Foto: Simone Núñez Reis.
João Garcia é um dos principais jornalistas esportivos do RS, torcedor assumido do Brasil de Pelotas, ele conta-nos um pouco da sua vasta carreira.

Entro na sala do jornalista esportivo João Antônio Lopes Garcia na rádio Bandeirantes. O veterano comentarista do esporte gaúcho, literalmente de peso recebe com um sorridente Olá!
Natural de Arroio Grande, cidade onde passou a infância e adolescência, João Garcia é casado, pai de Taiane e Tainã e avô de um garoto de 08 anos. Dentre suas preferências gastronômicas, elege A la minuta e sem fazer analogia aos clubes futebolísticos, diz que sua cor preferida é azul celeste. Universalista, conta que também recebeu influências do espiritismo Kardecista através de familiares e amigos espíritas.
Infância autodidata - Admirador da literatura espanhola, cita do poeta catalão Antônio Machado:  a frase: “Caminante no há camino, se hace El camino al andar.” João recorda que por ser um menino gordinho, cansava ao correr nas peladas de futebol. Fato que o transformou sua paixão pelo futebol  em leitor esportivo ao ganhar seu primeiro livro sobre futebol entitulado As regras ilustradas do Futebol, do tio Ladislau. Passado alguns anos, ganhou do amigo Luis Mendes a obra A Evolução Tática Do Futebol Brasileiro: Da Pelada a Pelé sobre a qual brinca: “Infelizmente não tenho mais estes livros, porque livro e mulher a gente não empresta porque os caras nos devolvem estragados”. Conforme João estas  duas obras básica são uma sopa de letrinhas para os que pretendem atuar no jornalismo esportivo compreendendo  terminologias como WM, 424, 433 e outras.

Comentarista  pirata - João começou a trabalhar como jornalista esportivo em uma rádio pirata AM em Pelotas, onde atuou como comentarista esportivo da equipe se abastecia lendo a Revista do esporte uma das  mais antigas publicações do futebol brasileiro, a Gazeta Esportiva e a Revista Placar que despontavam no cenário d as primeiras mídias esportivas nacionais. João explica que o jornalismo esportivo teve início com a mídia impressa dos jornais, mas o boom veio com o rádio, que o faz seguir na profissão até hoje.


Rádio no banheiro -João recorda que em sua residência em Arroio Grande, o pai e o avô  que eram rádio-técnicos na década de 30, receberam de presente um rádio em forma de kit para montar. Desde então, o primeiro rádio da família tornou a casa dos Garcia um ponto de circulação de moradores e autoridades locais que iam escutar os programas de rádio. “Nos 14 cômodos,inclusive o banheiro tínhamos aparelhos de rádio. Andávamos por toda a casa ouvindo rádio o dia inteiro. “ Descreve.


 Rádio-poste - Durante suas férias escolares, João recorda que a mãe não permitia que ele saísse com frequência para os banhos no arroio da cidade. “ Foi nesta época  que meu pai montou para mim um serviço de rádio-poste no pátio lá de casa. Alí começei mandando recados, oferecendo músicas e lendo notícias. que chamávamos na época de Letter Express. Eram notícias recortadas do jornal. Daí bem o meu gosto pelo rádio e por conseguinte pelo jornalismo esportivo.”

De imitador a colega dos ídolos jornalísticos - O jornalista conta que acompanhava todos os jogos da dupla Grenal, do Campeonato Gaúcho muito importantes na época e transmitidos pelas rádios Guaíba e Gaúcha. “Curiosamente, na década de 60 e eu acabei me transformando em colega dos meus ídolos como Lauro Quadros, Armindo Antônio Ranzolin e Rui Carlos Ostermann que acabaram sendo meus colegas e  com isto fui contemporâneo deles também.Destaca.
 Otimismo -  Aos estudantes de comunicação, João costuma dizer que a gente não sabemos na vida o que irá nos acontecer. “Todos aqueles que parecem então inatingíveis para nós em destinado momento poderão um dia dividir conosco uma  bancada de rádio.”
Copa da Espanha - João lembra que as transmissões de jogos copas mundiais exigem muito dos jornalistas e relata sua experiência na cobertura da Copa Espanhola em 1982., como repórter da Rádio Gaúcha. “Fiz entrevistas com russos, chineses, alemães e procurei usar minha criatividade ao montar as sonoras com auxílio dos tradutores, deixando os trechos das vozes  dos entrevistado quando citavam os nomes do jogadores brasileiros  como Sócrates, Zico, Júnior. Isto me dava credibilidade e  foi  importante porque tanto na transmissão por tudo de rádio ou televisão, conseguíamos uma sintonia fina das coisas que estavam acontecendo. Lembro que os equipamento eram levados em um container e montávamos uma mini-rádio no local da transmissão do evento. Tudo era patrocinado desde transporte, hotel e alimentação.

Ídolos profissionais - Seu ídolo é Pelé que segundo o jornalista nunca negou entrevistas  para a imprensa. Depois vêm Luis Felipe Scollari, João Saldanha, Enio Melo, Rui Carlos Ostermann e o jovem diretor da Band Leonardo Meneguetti. “Acho perfeito quando os lados profissional e cidadão mostram um comportamento equalizado como o destas pessoas que citei, respeitando o torcedor e a imprensa que também respeita  estes profissionais.
Dos gramados às lonas - O jornalista se diz um apreciador do boxe, esporte que considera uma arte nobre, cujo ídolo é Mohamed Ali, um dos boxeadores mais conhecidos que foi personagem de desenho animado, também conhecido como Cassius Kley. “No boxe ele é uma figuraça”. destaca.
Guga e Maguila - João Garcia considera o tenista Gustavo Kuerten, o Guga, o cestinha da seleção brasileira de basquete Oscar e o boxeador Maguila (por sua trajetória de homem humilde que chegou lá) os atletas mais carismáticos das duas últimas décadas.
Do I-pad a ética jornalística - João tece algumas considerações  sobre o mercado de trabalho nacional e internacional para as novas gerações de jornalistas esportivos: “Hoje com lap top, um i-Pod ou i-Pad o jornalista consegue colocar no ar via satélite uma notícia do outro lado do mundo e isto é fantástico. Mas observo que o novos jornalistas, não devem ficar antenados somente em novas tecnologias, precisam perceber a importância da questão ética, da preparação intelectual para o exercício da profissão que pede o domínio de dois ou mais idiomas ou  no mínimo um português bem falado para enfrentar o mercado na América Latina e no resto do mundo.
Futilidade jornalística - João ilustra que um jornalista que não  sabe respeitar a fonte ao colocar seu interesse profissional  acima desta não possui ética e ressalva: “È preciso que o jornalista saiba até que ponto uma notícia dada por ele pode prejudicar alguém.Hoje o jornalismo da futilidade tem nos conduzido a várias situações de falta de ética.
 União Soviética - Uma das viagens mais marcantes feitas por João Garcia, foi para a capital soviética Moscou em 1982, durante a cobertura pré da copa. Uma temporada considerada interessante pela cultura e regime comunista. “Tudo era muito vigiado, fechado de difícil acesso. Para um jornalista a dificuldade de acesso é um desafio e as reportagens que fiz lá, me marcaram, assim como os russos para os quais levei informações mais realistas sobre o Brasil. Eles pensavam que o Brasil era uma selva. Tive oportunidade de mostrar aos russos, um Brasil em franco desenvolvimento, com belezas naturais e desenvolvimento industrial comercial e educacional que eles desconheciam. Costumávamos brincar que na Rússia dos anos 80, ninguém andava sozinho. Os russos andavam sempre em duplas um para cuidarem um do outro.
Espionado pelos russos - Um fato muito curioso foi quando eu fui para um aniversário de uma família lá  em Moscou e  o cara que era meu cicerone mas mais parecia meu guardião,não ficou comigo naquele final de semana durante o qual fui fazer outras coisas sem a vigilância integral dele. Na sua volta ele me pediu durante sua ausência.Aquilo para mim foi anormal , mas para os russos era muito natural.
 Canadá - Em 1983, o jornalista viajou ao Canadá para conhecer as tecnologias de construção de um estádio em Vancouver. “Foi interessante por que no Canadá eu ví uma cultura de democracia e liberdade, bem diferente da Rússia.

Postura profissional - Para João Garcia, o kit básico que um jornalista esportivo deve possuir referente à postura profissional é a informação pretéritamente formada a respeito do que irá fazer. O profissional jamais  deve colocar  sua preferência clubística acima da cobertura, além de não poder ser preconceituoso e nem torcedor.O fundamental é ser isento na cobertura.



Garcia Style - João Garcia considera sua principal vaidade a profissão, por gostar muito do que faz. Nos programas de televisão o jornalista diz curtir um look mais clássico como o terno ou blazer. Mas no dia a dia prefere o estilo mais esporte casual usando calças jeans com camisas sociais e de jeans ou gola pólo, acompanhadas de sapatênis. “Como hoje estou 15 quilos mais magro, fiquei um pouco mais vaidoso pelo fato de  que agora posso usar o que antes eu não usava. Todo o comunicador deve ser vaidoso, andar bem arrumado, vestir  roupas adequadas , usar um bom perfume,  andar com cabelo e barba bem aparada. Um jornalista não pode ser desleixado, pois o desleixo se transforma em uma bola nas costas.”
Chuteiras, metrossexualidade & fashionismo - Sobre jogadores que desfilam para grifes e metrossexuais assumidos, João acredita que os jogadores não deveriam descuidar-se de objetivos  considerados principais como a preparação física, descanso e alimentação adequados.
Jornalista plus size -  A princípio as pessoas preconcebem o gordo como uma pessoa não responsável, como se o gordo fosse uma espécie de carioca, aquele personagem do Walt Disney.   Nós gordos não somos levados muito a sério, mas para o lado da brincadeira, basófia. Sempre procurei usar favoravelmente o fato de ser gordo. Mas nunca deixo que me transformem em folclore. Já sofri no elevador, onde sempre causo algum frisson. Sempre procuro não causar problemas às pessoas seja num ônibus, em uma lotação. Todo gordo deveria perceber que é supertamanho.
 Bolas, camisetas & autógrafos - “Tenho uma bola autografa por todos os jogadores do Grêmio, que ganhei de presente do técnico Felipão, durante o pentacampeonato  de 2002 e uma segunda camiseta  autografada pelo Felipão quando estava na seleção brasileira. Também tenho autógrafos do Falcão, Pelé que guardo como relíquia para meu neto.”

De tricolor à Xavante -“Já fui gremista quando morava no Arroio Grande, mas quando comecei a trabalhar em rádio  em Pelotas, conhecí a torcida do Brasil de lá e me tornei Xavante. Curiosamente eu era gremista pela influência pelos jogadores Gita e Gitinha do Arroio Grande devido às proximidades entre as nossas famílias. O Brasil de Pelotas eu conhecí pelo próprio Gita que também foi seu jogador, mas  muito mais pela colhida da torcida do Brasil de Pelotas ) xavante) que foi apaixonante. Tenho bons amigos tanto no Grêmio quanto no Internacional, mas não  chego a torcer. Sou verdadeiro nas minhas análises futebolísticas. Infelizmente no Rio Grande do Sul o torcedor tem que ter um carimbo: É gremista ou colorado.E percebo que estamos  deixando de ser isentos para sermos partidários. Este tipo de partidarismo é prejudicial para os profissionais  do jornalismo esportivo. Mas ainda é praticado.”.
Homenagens Grenal  e Xavante -  “Já recebi muitas homenagens do Brasil de Pelotas, Grêmio e Internacional. Transito bem entre os que não são fanáticos.
Partida e golaço - “Uma partida inesquecível para mim foi  a do Brasil x Argentina, durante a Copa do Mundo em 1982 . Já m golaço foram todos os gols do Pelé que sempre fez os chutes mais fantásticos ,nunca fez feio.”


Para ler e navegar -  “ Gostaria de recomendar um site criado pelo professor João Paulo Medina que é o www.universidadedofutebol.com.br universidade do futebol, um endereço eletrônico admirável.  Quanto à literatura futebolística, indico os livros  do professo Hélio Carraveta, que é preparador físico do Internacional, um PhD em preparação esportiva e os do João Saldanha que são bastante interessantes também. Incluo os de Cláudio Diestmann,  que  atualmente trabalha na Secretaria da Copa ( SECOPA) e que é nosso colega de jornalismo e que traz inúmeras histórias de copa do mundo, do futebol brasileiro e gaúcho.”
Copa 2014 -  “Ainda nos falta a cultura da copa,  ou seja a cultura de todos dos que prestam serviço e de quem  poderá  vir a prestá-los. Mesmo estando um pouco atrasada, o que é característico do Brasil,  na hora ela vai sair. “
Aos futuros jornalistas do esporte - “O jornalismo não é unilateral. Os novos jornalistas não devem colocar só a emoção em seu trabalho de cobertura,  somente quando esta ajudar na realização do seu trabalho. A razão deve  sempre preponderar. Ao escolher uma fonte , todo o jornalista tem que lidar bem com isto e não somente ficar escolhendo fontes, mas saber  que fonte com que ele está lidando pode lhe render uma boa ou má matéria.”

Matéria de Simone Núñez Reis

Opinião Sport Clube - Facebook


.
← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial